O post de hoje é um resenha crítica do texto de Arnaldo Jabor, Os Homens Desejam Mulheres que não Existem. Difícil não concordar com Arnaldo Jabor, afinal, quem nunca se sentiu, como ele diz, mais solitário diante de tanta oferta de mulheres? Para os casados, fica aquele sentimento de mediocridade, pois se vive em um mundo de exageros onde somos levados a consumir mais e mais produtos (mulheres). Para os solteiros, que se apressam em conquistar mais e mais títulos (mulheres), fica aquela futilidade vazia do dia seguinte, onde só se supera, reiniciando novo desejo de conquista de novo título. É evidente que nosso desejo sexual, fora a parcela natural, movida pelo instinto, é controlado pela indústria do sexo. É muito mais lucrativo para as industrias de cosmético, fármacos, moda, pornografia etc, manter a cultura da mulher ter que ser perfeita e o homem ter que querer possuir todas estas mulheres.
Se pensarmos esta realidade como consequência do feminismo brasileiro, podemos culpar ainda mais o movimento, que parece ter e estar seguindo o caminho inverso. Ao invés de conquistarem seu espaço, as mulheres se meteram em uma situação ainda mais complicada, porque se antes não precisavam de mais nada que não cuidar da casa. Hoje tem de cuidar da casa, tem que trabalhar fora, cuidar de filhos e marido além da beleza, do corpo atlético e tudo isso em uma guerra acirrada com os homens, para mostrarem-se capaz. As mulheres se livraram de uma condição onde agora se gabam de uma liberdade inexistente. É como a abolição da escravatura que só existiu no papel, mas até hoje temos trabalho escravo, a grande massa da populacional que recebe menos que o necessário para uma sobrevivência digna. Agora, ao invés de escravos negros, temos toda a grande massa trabalhadora. Não sei quem as puseram neste lugar, mas elas estão exatamente ai, achando que estão abafando enquanto em verdade continuam sendo nada mais que objetos de consumo.
Jabor fala que estas beldades inalcançáveis , se pudessem expressar seu real desejo, não estariam em revistas sexy. Será? Eu me pergunto. Enquanto houver procura, se criará oferta neste mundo do sexo capitalista. Se não fossem as revistas, seria outro meio, o importante é ser importante. Ser idolatrada, cobiçada, venerada, o importante é ser um sonho. Pois isso é necessário, esse objetivo a ser alcançado, se não, talvez, a vida fique monótona de mais. Isso não é de hoje, o ser humano sempre precisou de mais e mais. Não é suficiente ter um carro, tem que ser o do ano. Não é suficiente ter um apartamento, tem que ser a cobertura. Não é suficiente ter uma mulher, ela tem que ser perfeita. Para alimentar esse mercado fortemente abastecido são necessárias estas mulheres, algo totalmente utópico. É como aquele sapato de R$ 1.000,00 que na feirinha custa R$ 30,00. A loja de grife só cobra preços exorbitantes porque se cobrar barato a classe alta não compra. Faz parte do consumismo, querer comprar o mais caro, por julgar ser melhor, por demonstrar poder, por status.
E hoje em dia esse mercado de mulheres perfeitas é tão vasto que acabam, cada uma delas, se misturando e perdendo sua identidade. São tantas mulheres frutas, tantas popozudas que acaba que o que realmente aparece é uma ideia, um simbolismo e não a pessoa em si. As pessoas sempre buscam o amor, a felicidade, a paz... Nessa busca, nos vamos pondo em lugares que cremos estar nos levando ao que queremos, mas muitas vezes no enganamos. É como estas mulheres perfeitas que posam na playboy por julgar dar-lhes status de gostosona. Malham sem parar porque sabem o quanto a beleza é valorizada hoje em dia. No fundo no fundo, só querem respeito, atenção, amor... mas sem saber como conquistá-lo, obtém um falso amor pela atenção e desejo das pessoas que lhe cobiçam, seja passa possuir, seja por invejarem sua beleza.
Contudo, também não posso deixar de me perguntar se não é este tipo de pensamento, hipocrisia? Acredito que, óbvio, se estivesse do outro lado da coisa toda, não pensaria assim. Se fosse eu me contorcendo nu em uma revista erótica, provavelmente teria argumentos aos montes para provar que não me faço de objeto ou me vendo. O fato é que, hipocrisia ou não, creio não termos chegado ainda ao modelo ideal de sociedade que sabe lidar com o sexo.
Por: Um Lugar Escuro
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